domingo, 22 de julho de 2007

À G\ D\ G\ A\ D\ U\

A Influência da Alquimia (1) na Simbologia da Câmara de Reflexões



A cerimônia de iniciação, através da qual são recebidos os candidatos em nossa Ordem, é uma pura fórmula arbitrária ou existe nela um significado e uma importância que escapam à observação superficial, e se revelam a uma consideração mais cuidadosa e a um estudo mais profundo?

Está pergunta cada maçom tem o privilégio de responder individualmente na proporção de seu entendimento, e a iniciação, assim como a Maçonaria de modo geral, serão para ele o que ele mesmo nelas reconhecer e realizar. Será esta uma sociedade mundana, e aquela uma simples cerimônia exterior, para quem as considerar com espírito profano e mundano. Será uma Instituição Iniciática e uma cerimônia simbólica (cuja compreensão despertará seu espírito) para quem a estudar e considerar com o propósito de encontrar a verdade: Realidade profunda que constantemente se oculta sob a aparência exterior das coisas.

Para isto é necessário examinar e estudar os diferentes elementos que compõem esta cerimônia, buscando o íntimo significado de cada um deles e seu valor em termos de vida, para aplicação operativa no místico Caminho da existência ao qual deve ser relacionado, para que a cerimônia possa ser individualmente vivida e realizada, e para que aquele que foi recebido Maçom, de uma forma puramente formal e simbólica, se torne efetivamente isso, transformando-se, com o esforço individual, de pedra bruta em pedra lavrada ou filosófica, do estado de homem escravo de seus vícios, erros e paixões, em Obreiro Iluminado da Inteligência Criativa que mora em seu coração.

Iniciação é uma palavra oriunda do latim initiare, que tem a mesma etimologia de initium, "início ou começo", provindo as duas de interesse, "ingresso em" e de "começo ou princípio de" uma nova coisa. Em outras palavras, iniciação é a porta que conduz a adentrar num novo estado moral ou material, no qual se inicia ou começa uma nova maneira de ser ou de viver.





Por esta razão, o símbolo fundamental da iniciação é o da morte, como preliminar para uma nova vida; a morte simbólica para o mundo ou para o estado "profano" necessário para o renascimento iniciático; ou seja, a negação dos vícios, erros e ilusões que constituem os "metais" grosseiros ou qualidades inferiores da personalidade, para a afirmação da Verdade e da Virtude, ou da íntima Realidade, que constitui o ouro puro do Ser, a Perfeição do Espírito que em nós habita e se expressa em nossos Ideais e em nossas Aspirações mais elevadas.

A cor negra do quarto trazem-nos à mente a antiga fórmula alquímica e hermética (2) do Vitríol: "Visita Interiora Terrae, Rectificando Invenies Occultum Lapidem", Visita ao interior da Terra: retificando encontrarás a pedra escondida". Isto é: desce às profundezas da terra, sob a superfície da aparência exterior que esconde a realidade interior das coisas e a revela; retificando teu ponto de vista e tua visão mental com o esquadro da razão e o discernimento espiritual, encontrarás aquela pedra oculta ou filosofal que constitui o Segredo dos Sábios e a verdadeira Sabedoria. Retificando, era o nome dado pelos alquimistas (3 )para processo de redestilação de um líquido para purificá-lo, símbolo de purificação, de redenção, de libertação da paixões interiores, das emoções da matéria e dos desejos do corpo. Temos representado aqui a transformação.

A câmara de reflexões constitui a prova da terra - a primeira das quatro provas simbólicas dos elementos - e, através de sua analogia, conduz-nos aos Mistérios de Elêusis (4), nos quais o iniciado era simbolizado pelo grão de trigo atirado e sepultado no solo, para que germinasse abrisse, por seu próprio esforço, um caminho para a luz.

A semente, na qual se encontra em estado latente ou com o potencial de uma toda a planta, representa muito bem as possibilidades latentes do indivíduo que devem ser despertadas e manifestadas à luz do dia, no mundo dos efeitos.

Essa semente, que deve morrer na terra para produzir a nova vida da planta, cuja perfeição encerra em estado potencial, morreu efetivamente no pão que está sobre a mesa da câmara de reflexões, para simbolizá-la. Este pão representa além disso, a substância que constitui o meio pelo qual a vida se manifesta em todas as suas formas, a matéria prima que muda continuamente, o mecanismo incessante da renovação orgânica, passando de um a outro estado, de uma a outra forma de existência.
Ao lado do pão, encontra-se um copo com água, ou seja, aquele elemento úmido - outro aspecto da própria Substância Mãe - que é fator e condição indispensável de crescimento, germinação, maturação, reprodução e regeneração.

Estas duas formas complementares, atuam constantemente uma sobre a outra, como podemos observar em todos os processos biológicos; em seu estado primitivo, o pão representa o carbono que sob a forma de ácido carbônico, é encontrado na atmosfera, e que a vida vegetal transforma nos hidrocarbonatos, substâncias básicas que constituem todas as partes da planta, das quais nascem posteriormente as proteínas. Todas estas transformações necessitam como base o elemento úmido, a água.

Uma vasilha de sal (4) e uma de enxofre encontram-se também sobre a mesa, junto com o pão e com a água. Ainda que o primeiro seja habitualmente conhecido como um condimento, sua associação simbólica com o segundo não deixa de parecer algo estranho e misterioso. O que significam, pois, estes dois novos elementos, este novo casal hermético, que se une ao anterior?

Trata-se de um novo tema de meditação que é apresentado ao candidato, sobre os meios e elementos com os quais deve se preparar para uma nova Vida, iluminada pela Verdade e concebida, ativa e fecunda com a prática da Virtude, a que se referem o Enxofre e o Sal em sua mais elevada acepção.

Como tal indica, o primeiro (enxofre) a Energia Ativa, que se torna a Força Universal, o princípio criador, enquanto que o segundo (sal) é o princípio atrativo que constitui o magnetismo vital, a força conservadora e fecunda.

A ação e a interação entre estas duas tendências opostas, produzem em nós o mercúrio vital ou princípio da Inteligência e Sabedoria.

E quando renascemos, devemos estar preparados para a transformação lenta e constante, como na alquimia, em que coziam e recoziam, sem se cansar disto, procurando sempre a purificação, devemos seguir procurando e polindo a nossa Pedra Filosofal, e continuar guardando, como aparenta, as tradições alquímicas até hoje.



Notas:

(1)
A palavra alquimia, do árabe, al-khimia, tem o mesmo significado de química, só que, esta química, antigamente designada por espagiria, não é a que atualmente conhecemos, mas sim, uma química transcendental e espiritualista. Sabe-se, que “al”, em árabe, designa Ser supremo, Todo-Poderoso, como Al-lah. O termo alquimia, designa desde os tempos mais recuados, a ciência de Deus, ou seja a química de Al.A alquimia é baseada na crença de que há quatro elementos básicos --fogo, ar, terra e água, a mesma quantidade de viagens da iniciação e com os mesmos elementos.
(2)
Hermética vem de Hermes Trimegisto (Hermes = o três vezes sagrado). Hermes era o deus grego que servia como mensageiro que entregava as almas dos mortos para Hades, e na Europa Medieval,era considerado o deus da alquimia., onde um dos livros mais sagrados dos alquimistas tinha sido alegadamente escrito por ele.
(3)
O significado comum e familiar do adjetivo hermético pode nos dar uma idéia do sigilo por meio do qual os alquimistas costumavam ocultar a verdadeira natureza de suas misteriosas pesquisas. Não devemos portanto estranhar se a maioria das pessoas segue acreditando, ainda hoje, que os principais objetos dos alquimistas foram os de enriquecer-se por meio da pedra filosofal, que deveria converter o chumbo em ouro puro, e alongar notavelmente a duração de sua existência, livrando-se, ao mesmo tempo, das enfermidades por intermédio de um elixir e de uma milagrosa panacéia.
O ideal alquimista não constitui a descoberta de novos fenômenos, ao contrário do que procura cada vez mais intensamente a ciência moderna, mas sim reencontrar um antigo segredo, que ainda é inacessível e inexplicado para a maioria. Ela não é constituída somente de um caminho material, como por exemplo a transmutação de qualquer metal em ouro. Antes de tudo a alquimia é uma arte filosófica, uma maneira diferente de ver o mundo.
(4)
A palavra "mistério" deriva de um vocábulo grego que significa fechar os olhos e, os Mistérios de Elêusis eram segredos ciosamente guardados, protegidos por sanções, tais como a morte para qualquer pessoa impura que espiasse os ritos sagrados, ou o confisco das terras de um iniciado que revelasse os segredos do culto.
Em tempos imemoriais, uma colônia grega vinda do Egito havia trazido para a tranqüila baía de Elêusis o culto da grande Ísis, sob o nome de Deméter ou mãe universal. Desde esse tempo, Elêusis ficou sendo um centro de iniciação.



(5)

Na alquimia Enxofre, Mercúrio e Sal não significam os corpos químicos por que vulgarmente são conhecidos, mas certas qualidades da matéria. Assim, o Enxofre, num metal, significa a cor e a combustibilidade; o Mercúrio, o brilho, volatilidade e maleabilidade; o Sal, o meio de união entre o Enxofre e o Mercúrio, segundo uns, e a dureza quanto a outros. Os mesmos corpos químicos utilizados na câmera de reflexões.




Biliografia:

Matéria Pesquisada nas obras:

"Ao encontro do passado" (Seleções),
"Os Grandes Iniciados" (L Schuré),
“Manual del Aprendiz" (Magister),
"O mito de Perséfone" (Ganimedes).
Várias obras de Rubelus Petrinus.

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